terça-feira, 8 de novembro de 2022

Violência na Escola

 


     No último final de semana, fomos surpreendidos com mais um caso de violência física em ambiente escolar. Um adolescente autista, foi agredido por um colega de classe. Segundo os relatos da mãe da vítima, o filho foi agredido com um mata leão durante o intervalo de aula. Muitos são os desafios no ambiente escolar nos dia hoje. As unidades de ensino recebem seus alunos dos mais variados núcleos familiares e no universo escolar, todos acabam por transbordar sua emoções e comportamentos. Todos os contextos da convivência familiar passam a conviver e dividir momentos no ambiente escolar. Os conflitos, necessidades, carências, violência e tantas outras vivências se juntam e demandam, cada dia mais, um cuidado especial. Uma atitude violenta pode ser um grito de socorro, um sinal explicito da necessidade ou, até mesmo, um extrapolar do ambiente vivenciado em casa.   

     O caso em questão gerou grande repercussão, pois a vítima é um adolescente autista. Com tudo, sabemos que as cenas de violência vem se tornando algo comum nas Escolas e vem demandando atenção de autoridades, profissionais e famílias. Podemos identificar dois tipos de violência nas escolas. A violência onde alunos se aproveitam de uma deficiência, timidez ou condição social da vítima para satisfazer uma necessidade de prazer temporário ou afirmação de certa superioridade. Esse tipo de violência pode ser física ou psicológica e é chamada de Bullying. Essa foi a violência sofrida pelo adolescente na Escola Particular em Belo Horizonte, pois o colega se aproveitou de sua fragilidade. O bullying vem ganhando destaque e sendo combatido no ambiente escolar com um intenso trabalho de conscientização e amplo acompanhamento dos gestores escolares. Outra forma de violência presente nas Escolas e mais comum, são as agressões físicas na busca equivocada para solução de conflitos ou conquista de espaço. Esse tipo de violência reflete a forma na qual nossa juventude vivencia no seu ambiente familiar e social. Percebemos que esse tipo de violência se torna mais comum, na medida em que encontramos maior vulnerabilidade social e menor oferta de oportunidade de desenvolvimento humano. Já o bullying, tem particularidades nos diferentes grupos sociais. Quando encontramos grupos socialmente privilegiados, percebemos maior incidência de violência psicológica ou discriminatória, já nas camadas mais vulneráveis, percebemos que a violência se concentra mais através de termos pejorativos como apelidos.

     Seja qual for a violência, precisamos nos debruçar sobre o tema e buscar soluções adequadas a cada caso e realidade. Por mais que um ato de violência desperte um sentimento ruim e o desejo de punição ao agressor, precisamos entender que as crianças e adolescentes que praticam violência, são vítimas que fazem outras vítimas. É claro que nenhum ato de violência pode ficar sem suas consequências e os agressores, guardadas suas proporções, devem ser responsabilizados e receberem medidas que visem reparar danos e educar para a não violência, mesmo que essas medidas sejam as denominadas protetivas. Toda e qualquer ação de violência reflete um estado emocional ou uma transgressão de conduta adquirida por meio de falhas no processo de desenvolvimento ou alguma patologia não identificada, não tratada ou negligenciada. Precisamos ter o cuidado para não se preocupar apenas com as consequências da violência e esquecer sua motivação. Uma doença, mesmo as de caráter social, precisa ser tratada na sua causa e não apenas em seus sintomas.

     Algumas Escolas, incluíram disciplinas de cultura da paz em sua grade curricular para possibilitar uma melhor abordagem dos conflitos e construir meios para minimizar os impactos sobre a vida dos alunos e criar um ambiente escolar mais saudável e, consequentemente, levar a reflexos positivos no ambiente social e familiar. Nossa organização familiar e social vem sofrendo grandes transformações, mas o escolar vem ficando cada vez mais obsoleto e carente de práticas que permita conjugar o ensino regular com uma maior integração, ampliação do debate dos problemas atuais e solução dos conflitos através de soluções construídas pelos próprios atores. 

      Já passou da hora de uma restruturação do nosso sistema educacional e uma maior atenção sobre a saúde mental de nossa juventude e seu complexo desenvolvimento. É preciso entender que não é possível separar as questões do universo escolar da do familiar e social, pois estes se completam e se integram. O conteúdo pedagógico é fundamental para a construção do sucesso profissional, mas este não pode ser pleno sem as soluções das questões pessoais. Cuidar do conteúdo programático é importante, mas se não cuidarmos do emocional, teremos uma sociedade cada vez mais adoecida. Escola é lugar de aprender, mas também precisa ser um lugar para cuidar.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O ano eleitoral começou

Este ano, votaremos para Prefeito e vereador. Uma eleição local e que apresenta muitas dificuldades aos que buscarão a Vitória. Em tempos de polarização, do grande fluxo de pessoas nas mais diversas redes sociais e de crises Institucionais, Sociais e Econômicas a disputa de uma vaga pública através do voto popular se torna muito acirrada. Quem já é ocupante, entra na disputa com uma dificuldade ainda maior, pois precisa enfrentar a insatisfação daqueles que esperavam mais e ainda das mais diversas formas de ataque por parte daqueles que se opõem aos que já ocupam um cargo eletivo e querem tomar seus lugares. 
É natural e do jogo político, a disputa de forças e de idéias, onde cada candidato defende suas idéias e buscam o apoio dos grupos que formam opinião.  Uma prática que vem crescendo a cada pleito é o da desconstrução da imagem dos candidatos, especialmente daqueles que estão mais expostos e por mais que a população manifesta sua reprovação a tais métodos, esta mesma população se deixa levar por milhares de notícias fakes que buscam dar um tom de verdade a fatos distorcidos ou falsos.
A escolha de Prefeito e de um vereador, impactará profundamente a vida de uma Cidade por quatro anos, tais como, a geração de emprego, etc
A escolha do candidato não pode se pautar exclusivamente pelo que se vê nas redes sociais ou de informações recebidas por meio de aplicativos de mensagens. O eleitor precisa analisar os meios de informação confiáveis como matérias jornalísticas, atuação do candidato e suas propostas. 
Aos que buscam uma recondução de mandato, seja no executivo ou legislativo, se faz necessário um olhar ainda mais amplo. O eleitor precisa olhar sua atuação nos últimos anos e sua produção legislativa ou executiva. Às vezes, um candidato encontra diversas dificuldade em alguns setores, mas consegue priorizar outros que avançam e trazem benefícios concretos à população.  Quando se busca atuar no legislativo, com a propositura de leis, fiscalização dos atos de executivo ou atos que visam garantir os direitos de seus representados, ou ainda,  quando a atuação executiva visa melhorar a vida das pessoas e criar meios para o desenvolvimento social e econômico de uma Cidade, o legislador ou gestor precisa superar inúmeras barreiras. Um vereador, ao ser eleito, se torna uma voz no meio de outras que receberam do eleitor, a incumbência de reprensentá-lo e por isso, precisa convencer a todos que suas propostas são relevantes e que trará benefícios à população e que sua idéia é factível.  O Prefeito, quando escolhido para representar a população na gestão da Cidade na implementação de políticas que levem seus munícipes ao desenvolvimento, também precisa transpor inúmeras barreiras. Um Prefeito enfrenta os desafios da falta de recursos, a burocracia na execução  desses  recursos e ainda precisa estar pronto a apresentar respostas rápidas e eficazes aos acontecimentos imprevisíveis, além de ter que fazer escolhas visando um bem melhor ou até mesmo minimizar os efeitos de um acontecimento ou de uma realidade difícil, estabelecendo as prioridades. Além das dificuldades inerentes a cada cargo, um eleito, precisa superar as barreiras das disputas políticas. 
Uma Cidade, Estado ou País, não podem ser comparados à uma empresa, pois sua finalidade não é dar lucro financeiro, mas garantir benefícios e condições de vida aos seus. Por isso uma gestão, apesar de precisar evitar prejuízos, não pode buscar o lucro.
Fiquemos atentos aos cenários que serão desenhados, as alianças que serão celebradas e a atuação de cada candidato. Compare os serviços, compare as condições e analise os cenários enfrentados por aqueles que querem continuar ou alcançar uma vaga. Não se deixe envenenar por Fake News e converse com seus familiares e amigos sobre esss tema. Na dúvida, busque as informações e só divulgue nos casos em que a informação for comprovadamente verdadeira e se, de fato, pode trazer consequência aos munícipes.  
Votar é o exercício da plena cidadania.

sábado, 24 de novembro de 2018

PREFEITURA DE PETRÓPOLIS ATUALIZA CADASTRO PARA PROGRAMA HABITACIONAL

Predeitura faz chamamento público a desabrigados para atualização de cadastro

Listagem nominal dos convocados está publicada no sitewww.petropolis.rj.gov.br
A Prefeitura está fazendo um chamamento público para pessoas desabrigadas das chuvas que tiveram seus imóveis interditados – com laudos da Defesa Civil. São 1.296 famílias que terão atualização cadastral e estarão inscritas para o programa habitacional do município que já tem pré-aprovação da Caixa Econômica Federal para a construção de 1.028 unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida.
O chamamento é direcionado às pessoas – em listagem nominal que está sendo publicada na imprensa e no site da prefeitura wwww.petropolis.rj.gov.br - que perderam suas moradias em desastres ambientais, entre os anos de 2006 e 2013.
A ação promovida pela Secretaria de Assistência Social atenderá os convocados, das 9h às 17h, no Theatro D. Pedro II, onde o cadastramento será feito por ordem alfabética, dividido por grupos. Os primeiros atendimentos, na segunda-feira (26.11), serão para pessoas com nomes cujas iniciais vão de A a K e, na terça-feira (27.11), serão feitos os registros de L a Z.
“Petrópolis nunca teve uma política habitacional consistente e nosso esforço é para chegar ao final de 2020 com mais de 2 mil unidades construídas”, destaca o prefeito Bernardo Rossi.
Por meio do chamamento, a Secretaria de Assistência Social fará a atualização do registro, com checagem de nomes, documentações, endereços e atual situação habitacional das pessoas. Na ocasião, será necessária a apresentação do laudo fornecido às famílias pela Defesa Civil, com o parecer sobre a situação das moradias atingidas por desastres ambientais na cidade. As pessoas devem levar os documentos de Identidade, CPF e comprovante de residência.
Dois telefones foram colocados à disposição para esclarecimento de dúvidas: 2233-8109 e  2233-8110.
Essa convocação tem como foco as pessoas que perderam suas casas por completo ou foram impossibilitadas de continuar na moradia por interdição parcial do imóvel, entre 2006 e 2013. “Temos registros antigos para os quais precisamos verificar qual é a atual situação das pessoas que foram afetadas por essas ocorrências”, destaca a secretária de Assistência Social, Denise Quintela. Para a atualização cadastral podem comparecer os dependentes maiores de idade e ou representantes (filhos e cônjuges), dos proprietários das residências afetadas.
A partir do cadastramento e a depender da avaliação do assistente social, essas pessoas estarão habilitadas para receber as moradias previstas no programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Para Petrópolis estão previstas a entrega de mais 1028 unidades residenciais a serem construídas nas localidades de Benfica, para onde estão previstas 120 unidades; Vale do Cuiabá, 140; Mosela, 48 e Caetitu, com 720 moradias.
Fonte: Jornal Diário de Petrópolis (24/11/2018)

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Dia Nacional do Conselheiro Tutelar

Foto retirada da internet - CT Gravataí
No último dia 18 de Novembro, comemoramos o Dia Nacional do Conselheiro Tutelar. Curiosamente, neste mesmo dia, também comemoramos o Dia Mundial do Pobre. Fui escolhido Conselheiro Tutelar a primeira vez em 2009 e desde então passei a conhecer o cotidiano de várias famílias. Passei a acompanhar de perto várias dinâmicas familiares, suas vitórias, suas derrotas, seus desafios. A vulnerabilidade social, é de longe, a maior dificuldade de acesso aos direitos das famílias e quanto mais vulnerável, mais dificuldades encontram. Percebi, nos anos em que atuei como Conselheiro, o quanto este agente público é fundamental para garantir o acesso de tantas Crianças e Adolescentes aos seus direitos fundamentais. Em muitos casos, é o Conselho Tutelar o grande agente transformados de uma família. Fiquei como Conselheiro Tutelar por quase 7 anos, e nesse período pude viver muitas vitórias e derrotas. Pra cada avanço na vida de uma Criança ou Adolescente era uma vitória a ser comemorada, mas para cada retrocesso, era o momento de refletir e amargar uma derrota. Cuidar de pessoas reque muito mais do que vontade ou oportunidade, requer compromisso com o que se faz.
Por isso, apesar de já ter manifestado minha admiração aos nobres Conselheiros no dia 18 através de minhas redes sociais, quero hoje, reativar meu blog lembrando e mais uma vez felicitando os guerreiros que travam verdadeiras batalhas para garantir os direitos de nossas Crianças e Adolescentes e torcer para que, no ano de 2019, possamos continuar escolhendo pessoas verdadeiramente comprometidas em lutar por aqueles que um dia ocuparão nossos lugares e darão continuidade ao legado que deixare
mos.
Parabéns aos nobres e lutadores Conselheiros Tutelares, de Petrópolis e do Brasil!!!!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

25 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE



     Em 13 de Julho de 1990 era promulgada a Lei 8069, Estatuto da Criança e do Adolescente. Hoje, 25 anos depois temos muito pra comemorar. Nossas crianças e adolescentes foram incluídos no rol dos cidadãos e se tornaram pessoas de direito com direitos fundamentais garantidos. Diminuímos a mortalidade infantil, o acesso à educação e trabalho infantil. Quem viveu a era do Código de Menores sabe o que significou a criação tão valioso estatuto e como progredimos como sociedade.

     O Estatuto da Criança e do Adolescente é um instrumento legal de muito poder e regado de uma sofisticação não incomum nas Leis brasileiras, mas bem mais avançada que muitas legislações que estão em vigor há muito menos tempo. Nele, se comtempla tudo, não há que se pensar em garantir direitos fundamentais sem que se analise e busque o ideal em todas às áreas. O Estatuto, podemos afirmar, é a obra prima da legislação pós Constituição de 1988. Não é errado afirmar que foi pensado e impregnado pelo sentimento genuíno de nossa atual Constituição.

     Hoje precisamos comemorar sim este Diploma Legal e seus avanços, mas precisamos abrir espaço para uma ampla reflexão. Espaço esse que derrepente precisa ser até maior que o da comemoração ou até mesmo comemorar não com festas de oba-oba, mas de reflexão pelos desafios que nossa Sociedade tem que superar. Estão difundindo a ideia de que o Estatuto é uma Lei que precisa de revisão, eu digo que não, mesmo sabendo que pouco valerá a minha opinião. O Estatuto precisa de implementação e não de uma revisão à luz de ideias distorcidas e equivocadas onde querem colocar nossa juventude num patamar de monstros, retirando-os do patamar de pessoas em desenvolvimento. Queremos culpar nossa juventude por nossos próprios erros e que por conta de nossa conveniência escolhemos representantes, tomamos atitudes e estabelecemos comportamentos que só desvirtuam àqueles que deveríamos proteger. Não quero justificar erros e atrocidades praticadas por adolescentes, acredito que em alguns casos podemos estabelecer outras medidas, mas não a de encarceramento no Sistema falido.

     O Brasil se orgulha de seus avanços e assim deve ser, mas precisa mexer em suas feridas, pois não basta comemorar que reduzimos a mortalidade infantil em quase 70% se temos mais de 10.000 jovens assassinados por ano. Não podemos comemorar o fato de termos oferta de Ensino Fundamental para 93% de nossas Crianças e Adolescente e ainda nos depararmos com Escolas em ruínas, uma alimentação abaixo da crítica e uma qualidade que em nada acrescenta na vida de nossa Juventude. Vivemos o contraste de belos prédios e miseras salas de aula. Temos um sistema educacional que precisa ser renovado, não com conceitos destrutivos como a de desconstrução da sexualidade ou da família, mas que permita que nossos filhos aprendam a pensar e pratiquem não só o teórico, mas experimente a prática do que lê nos livros e ouve nas salas.

      As implementações do Estatuto precisam vir de cima. Às autoridades precisam absorver e efetivar as bases de nosso principal ordenamento jurídico, nossa Constituição, que se faz interpretada no Estatuto e demais normas que não vem mudar, mas completar àquilo que nem precisaria ser completado, mas como no Brasil precisamos viver a regra do jogo do bicho, vale o que está escrito, precisamos de normas adicionais que são quase que desenho aos que não querem entender o óbvio.

     Nossas Instituições precisam mudar sua conduta. Executivo, Legislativo e Judiciário precisam se banhar nas águas do novo, para alguns já velho, Instrumento que é a Constituição e Estatuto da Criança. Precisamos abolir de nosso vocabulário os termos “menor”, “infante” e tantos outros que nada mais fazem que rotular nossa Infância. As mudanças precisam partir da base.

     Bom, em plena discussão da redução da maioridade penal não podemos esperar muito do dia de hoje, senão vários comentários das inúmeras revisões que nossa Estatuto precisa sofrer.  A principal revisão precisa acontecer em nossas mentes, em nossos conceitos, em nossa forma de ver e receber as informações. Queremos reformar a casa que ainda nem ficou pronta. Estamos, ainda, nas fundações que sequer foram plenamente concluídas e teremos pela frente muitos desafios para vencer que não pode se limitar em analisar as consequências dos fatos, mas às suas causas. Precisamos sim pensar em formas de se combater o envolvimento de adolescentes com a criminalidade e criar meios, não o encarceramento, para que nossa juventude possa não simplesmente pagar por seus atos, mas refletir e ser recuperado para a Sociedade. O Jovem é dilema de se achar tudo e a incerteza de se sentir um nada, vive o impulso de querer desbravar o novo, mas sofre em não saber se conseguirá suportar o que virá.

     Precisamos de um debate consciente, pautado na realidade e sem as paixões das emoções que só nos fazem atropelar a razão. Viva o Estatuto da Criança e do Adolescente, viva nossa Infância cidadã!!
Rodrigo Lopes - Camelo

domingo, 18 de janeiro de 2015

Bater nos filhos é a segunda punição mais usada dentro de casa, diz estudo

Fantástico mostra, em primeira mão, os resultados de um estudo abrangente sobre os efeitos da violência na vida das crianças brasileiras.
 


Fantástico mostra, em primeira mão, os resultados de um estudo abrangente sobre os efeitos da violência na vida das crianças brasileiras. O terror do tráfico e o abuso da polícia na rua; o castigo e a palmada dentro de casa sob o ponto de vista de quem tem entre seis e oito anos de idade.

Como meninas e meninos tão pequenos reagem a esse cotidiano violento?
O que é ter oito anos e se arriscar só porque está brincando na calçada?
Menina: Vi muitas mortes e muito tiroteio. Aí minha avó não deixa eu ficar na rua por causa desses tiroteios.
Fantástico: Você já ouviu tiros?
Menina: Já.
O que é ter 7 anos e entrar em pânico ao visitar o pai?
Menina: Lá em cima, perto da casa do meu pai, tem vários bandidos.
Fantástico: É? Você tem medo?
O que é ter 6 anos e viver aterrorizada por quem nos deveria proteger?
Fantástico: E você tem medo da polícia?
Menina: Claro que tenho, né?
Fantástico: E tem medo por quê? Por que você tem medo da polícia?
Menina: Ela não dá tiro não, gente?
Fantástico: Dá tiro?
Menina: Claro que dá!
Pesquisa comprova que a violência urbana repercute dentro de casa

É a primeira vez que uma universidade brasileira faz um estudo sobre violência ouvindo crianças tão pequenas e com tanta profundidade. Financiada por uma fundação holandesa, uma equipe de cientistas da PUC do Rio Grande do Sul ouviu, durante dois anos, 540 crianças, a maioria entre 6 e 8 anos de idade. E também seus pais, irmãos e outros parentes.
Ao todo, 2.889 pessoas de 15 favelas e cortiços em três capitais - Recife, Rio de Janeiro e São Paulo - foram entrevistadas. “São dados extremamente desconfortáveis, mas são reais”, afirma Hermílio Santos, cientista social da PUC/RS.
A pesquisa que o Fantástico mostra, em primeira mão, comprova que a violência urbana repercute dentro de casa.
Mãe: Onde a gente se bate é um com um revólver na mão, outro vendendo uma droga, uma coisa e outra. Pra quem é só fica difícil de criar seu filho, né? Vendo essas coisas, né?
Fantástico: Você não se sente segura onde você mora?
Mãe: Eu não. Nem um pingo.
A maioria absoluta das mães que veem alguém apontando arma de fogo sempre ou quase sempre admite punir severamente seus filhos pequenos sempre ou quase sempre.
“Nós estamos falando do grito, do castigo, do bater e dar uns tapas”, explica Hermílio.
O castigo vem em primeiro lugar como método de correção. Mas não só aquele de sentar a criança em uma cadeira ou proibi-la de ver televisão. Uma menina de seis anos está acostumada à punição física.
Menina: Ela bota aquele caroço de milho e feijão e, por cima, ainda arroz. E me bota.
Fantástico: Você fica como? De joelhos?
Menina: É. Isso dói paca.
Fantástico: Dói? Tem marca no joelhinho? Essa marca é do milho?
Menina: É. Essa marca aqui é do milho?
Fantástico: E fica muito tempo?
Menina: Até de noite. Eu durmo com caroço de milho ainda.
Ao contrário do que se pensava, mãe é quem mais bate

Bater no filho é o segundo método mais usado pelos pais. “Quando eu vejo que ela tá querendo responder, aí não adianta mais colocar de castigo. Aí eu dou as tapas, depois de duas tapas vai para o castigo”, conta uma mãe.
No Rio de Janeiro, 71% das crianças de até 8 anos disseram já ter levado ao menos uma surra. No Recife, 75% delas. E em São Paulo, 57% disseram já ter apanhado.
Fantástico: Aquilo é um galho qualquer, né?
Menina: Não é um galho não.
Fantástico: O que é aquilo lá?
Menina: É vara. Meu pai que me bate com aquela vara ali. Aquela vara ali, atrás do muro. Aquela que é de marmelo.
Fantástico: Marmelo dói, né?
Menina: Marmelo? Pior que dói!
E começa quando eles ainda são bem pequenos. No Rio de Janeiro, 76% dos pais ou responsáveis admitiram bater em crianças de até 2 anos de idade. Em São Paulo, 83% disseram ter batido antes que seus filhos completassem 3 anos. E no Recife, 94% bateram em crianças antes dos 5 anos.
“Já com um ano de idade é muito frequente que as crianças sofram. Agora, o pico de violência sofrida pela criança entre 0 e 8 anos se dá entre 2 e 4 anos. Em todas as comunidades pesquisadas”, relata Hermílio.
Ao contrário do que se pensava, não é nem o pai nem o padrasto quem mais bate. A mãe aparece em primeiro lugar. Depois, a avó.
“Não é que o homem seja pacífico e a mulher, violenta. Há uma hierarquia da prática da violência. Isso significa que o homem pratica mais violência contra a sua companheira, e esta por sua vez repassa a violência contra a criança”, explica o cientista social.
Outro mito desfeito: não é por ficar mais tempo com o filho que a mãe bate nele. “Só comparar, mãe que fica mais com mãe que fica menos. A que fica menos bate mais”.
Um dado curioso. Em casas onde não há banheiro, ou têm um banheiro só, a criança apanha mais. “Por que isso? Porque o banheiro nessas comunidades é o único espaço da intimidade”, diz Hermílio.
Viver onde serviços são escassos interfere na qualidade de vida das crianças

A pesquisa constatou que viver em casas precárias e em comunidades onde os serviços são escassos em razão do abandono e da omissão histórica do estado interfere na qualidade de vida das crianças. O que surpreendeu foi a percepção delas diante dessa realidade dura.
Quando os pesquisadores pediram às crianças que desenhassem o lugar em que vivem, as crianças desenharam casas coloridas, ruas limpas, espaço para brincar, família feliz, paz. O bairro ideal nascido na ponta do lápis desconcertou as próprias mães.
“O sonho deles, né? É o sonho das crianças que fosse daquele jeito que elas estão desenhando, né? Mas não é, né?”, observa uma mãe.
“Você tem quase que uma glamorização e uma fantasia do ambiente, muito florido. Talvez seja o ambiente que elas gostariam que fosse”, diz Hermílio.
Mas essa percepção não lhes tira o senso de realidade e nem o desejo de morar em outro lugar.
Menina: Longe, longe, né? Tem que pegar um monte de ônibus, então vou de táxi.
Fantástico: Mas por que morar tão longe?
Menina: Porque eu quero. Porque lá não tem polícia.
Quando os pesquisadores perguntaram às crianças qual a principal forma de violência na rua, a maioria, nas três cidades pesquisadas, deu a mesma resposta: alguém sendo levado pela polícia.
Fantástico: Como é que a polícia fez?
Menina: Levou ele. Prendeu. Pronto. Só voltaram outro dia.
Fantástico: Mas bateu nele, não?
Menina: Bateu. Bateu na frente da minha tia ainda.
Fantástico: O policial? Bateu?
Menina: Veio guarda, veio polícia, veio bandido.
Método considerado mais eficiente para se proteger é cumprir a lei do silêncio

Para os pesquisadores, há uma consequência perversa em ações arbitrárias do Estado. A criança se confunde, e já não vê mais diferença entre atitude de policiais e bandidos.
“Esses papéis, eles não são muito nítidos: um é o portador da bondade e o outro, da maldade. Porque ambos, para elas, são capazes das duas coisas. Ambos podem proteger, mas ambos também podem punir de forma arbitrária”, avalia o pesquisador.
Outro dado alarmante: o método considerado mais eficiente para se proteger é cumprir à risca a lei do silêncio imposta pelo tráfico.
“Como diz aquele ditado: fica surdo, mudo e cego”, diz uma das mães.
Menina: Porque criança não pode se meter não.
Fantástico: Criança não pode se meter, né? Por isso que você fica quietinha.
Menina: Sim.
Fantástico: Entendi.
Mas quem protege esta menina de oito anos do trauma que sofreu ao ver um homem cair baleado diante dela?
Menina: Porque a cena que eu vi aí na frente eu não consigo nem lembrar.
Fantástico: É? Muito triste?
Menina: É.
Fantástico: A pessoa morreu?
Menina: Sim.
Fantástico: E você fica com isso na cabeça?
Menina: Fico.
Reduzir os assassinatos seria suficiente? Basta comparar Rio e Recife. De acordo com o Mapa da Violência divulgado no ano passado, com números de 2012, o Recife tem uma taxa de 52 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. O Rio de Janeiro tem uma taxa bem menor: 21,5 homicídios por 100 mil habitantes. Mas o percentual de mães que batem nos filhos nas duas capitais é quase o mesmo: 73% em Recife, e 71% no Rio.
“Reduzir criminalidade é muito positivo, extremamente positivo, mas não é suficiente para garantir um cotidiano pacífico para as nossas crianças”, alerta Hermílio.
O vazio de oportunidades de trabalho para mãe, e a falta de creche para a criança, expõe uma menina de 5 anos a passar parte do dia na rua, diante de uma atividade ilegal.
Mãe: Eu trabalho na banca de bicho. Eu levo ela de manhã para a escola. Aí ela larga de 11 horas, e eu venho para cá.
Fantástico: O que você fala para a sua filha sobre trabalhar na banca de bicho?
Mãe: Isso eu não cheguei a falar com ela não. Eu só digo a ela que vou trabalhar. Ela sabe que é um trabalho, mas não sabe o que é.
Quase 100% das mães ouvidas dizem que bater nos filhos não resolve nada

Ela diz que, de vez em quando, bate na menina, embora não acredite que dê muito certo.
Fantástico: Você disse que não funciona dar o tapa, né?
Mãe: Isso.
Fantástico: Mas você mesmo assim já deu?
Mãe: Já.
Fantástico: Por que você deu sabendo que não funciona?
Mãe: Porque... Rapaz, agora você me pegou!
Essa contradição é o resultado mais avassalador do estudo: 99% das mães ouvidas dizem que bater nos filhos não resolve nada.
“Esse eu diria que é o dado mais positivo da nossa pesquisa e pode orientar muito concretamente ações. Se você quer fazer uma ação para reduzir violência, você vai perder tempo tentando convencê-las de que não pode bater. Por que isso elas já sabem, assim, que não leva a nada. Você tem que ensinar como fazer.”, afirma o cientista social.
Ensinar, no sentido mais nobre da palavra, talvez seja a chave. A pesquisa comprova que nas famílias em que um ciclo escolar se completa, seja o ensino fundamental ou médio, os pais batem menos nos filhos
“Quando você se educa, vai à escola, você aumenta as suas expectativas de mudar de vida, de melhorar de vida”, diz Hermílio,
Sem limites para as asas que a educação dá.
"O que eu quero ser quando eu crescer? Quero ser médica!", diz menina.
Aí quem sabe a violência e a morte deixem de ser rotina banal e luto precoce.

Menina: Eu chorei.
Fantástico: Mas é triste mesmo.
Menina: Morte é triste!
Fantástico: Morte é triste, é verdade.
 
 

sábado, 10 de janeiro de 2015

Reta Final

Olá amigos, estou de volta às postagens e quero neste último ano de trabalho como Conselheiro Tutelar partilhar as experiências e colocar minhas expectativas para o Futuro. Desde 2009 servindo e aprendendo com nossa Infância e Juventude. De tudo que posso testemunhar uma coisa é bem clara em minha vida após esses anos de serviço: Direito é direito, independente do direito que eu tenho direito. Por isso, em diversos momentos, sou chato, intolerante até "grosso", não por maldade, mas pela indignação de ver pessoas serem humilhadas e outras acomodadas. Para mim, hoje não interessa o direito que eu ou qualquer pessoa tenha, importa que temos direito. Por isso, quero durante esse ano falar de minha frustrações, indignações, erros, vitórias e ensinamentos.
Vamos em frente, pois se muito foi feito muito mais ainda há por ser feito.

Violência na Escola

       No último final de semana, fomos surpreendidos com mais um caso de violência física em ambiente escolar. Um adolescente autista, foi ...